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Vieira da Silva

Maria Helena Vieira da Silva (1908-1992) foi uma das mais importantes pintoras abstratas do século XX, destacando-se pela sua abordagem singular à representação do espaço. Nascida em Lisboa, cresceu num ambiente intelectual e artístico que estimulou a sua criatividade desde cedo. A infância solitária, marcada por viagens ao estrangeiro e longas horas na biblioteca do avô, despertou nela a necessidade de imaginar e criar.

Começou por estudar desenho, pintura e música, mas também se interessou pela escultura, o que a levou a frequentar o curso de Anatomia na Escola Médica de Lisboa. Contudo, sentindo que o meio artístico português era pouco estimulante, decidiu partir para Paris em 1928, onde estudou com mestres como Bourdelle, Fernand Léger e Roger Bissière. No prestigiado Atelier 17, de S.W. Hayter, aprofundou-se na gravura e experimentou novas técnicas.

Em Paris, conheceu o pintor húngaro Arpad Szenes, com quem se casou em 1930. A sua arte evoluiu progressivamente para uma abstração geométrica única, inspirada pela complexidade das grandes cidades, das bibliotecas e dos labirintos. Os seus quadros exploram perspetivas múltiplas, criando composições quadriculadas e ambíguas, que se tornaram a sua marca distintiva.

Durante a Segunda Guerra Mundial, devido à sua condição de apátrida e ao facto de o seu marido ser judeu, o casal refugiou-se no Brasil (1940-1947). No Rio de Janeiro, conviveu com artistas e escritores como Murilo Mendes e Cecília Meireles, mas a sua produção artística sofreu uma redução drástica. O regresso a França, em 1947, foi um ponto de viragem na sua carreira: o Estado francês adquiriu uma das suas obras em 1948, garantindo-lhe reconhecimento oficial e impulsionando a sua notoriedade internacional.

A partir da década de 1950, Vieira da Silva consolidou-se como uma das artistas mais inovadoras do seu tempo, colaborando com escritores, cenógrafos e arquitetos. Os seus quadros passaram a ser considerados ícones da arte abstrata, refletindo a alienação do pós-guerra. Foi naturalizada francesa em 1956 e começou a receber prestigiados prémios internacionais, incluindo o Prémio Internacional de Pintura da Bienal de São Paulo (1961) e o Grand Prix National des Arts de França (1966).

O seu trabalho foi amplamente reconhecido por museus de renome, incluindo o Centre Georges Pompidou (Paris), MoMA e Guggenheim Museum (Nova Iorque), Tate Collection (Londres) e Museu Thyssen-Bornemisza (Madrid). Expôs em inúmeras cidades, de Lisboa a Tóquio, e realizou importantes projetos de arte pública, como os vitrais da Igreja de Saint-Jacques em Reims (1966) e a decoração da estação Cidade Universitária do Metropolitano de Lisboa (1988), em colaboração com Manuel Cargaleiro.

Nos seus últimos anos, Vieira da Silva continuou a pintar no seu estúdio em Paris, mesmo após a morte de Arpad Szenes em 1985. Em 1990, foi criada a Fundação Arpad Szenes-Vieira da Silva, em Lisboa, para preservar o legado do casal. Foi condecorada com as mais altas distinções em França e Portugal, incluindo a Grã-Cruz da Ordem de Sant’Iago da Espada (1977) e a Legião de Honra francesa (1991), entregue pelo Presidente François Mitterrand.

Faleceu a 6 de março de 1992, deixando um legado artístico que continua a influenciar gerações de pintores abstratos.

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